quarta-feira, 18 de abril de 2007

Esboço do ateísmo

1. O que leva as pessoas ao ateísmo? Certamente há vários caminhos. Mas há também aqueles que de fato passam imperceptíveis pelos nossos olhos, e quando falamos deles costumamos dizer “eis mais um cristão”, mas é justa esta afirmação? Coloquei abaixo um estudo sobre o ateísmo feito por Allan Kardec, como eu já disse na introdução, o que quero fazer com os livros sagrados é tirar-lhes o status de sagrado e entregá-los a filosofia porque a verdade é que há sim, em meio ao esgoto de erros e mar de contradições, uma ou outra sabedoria ou estudo que de fato vale a pena ser citado. Uma vez que um livro não é mais considerado sagrado, ordenado por espíritos próximos de Deus, ou inspirados divinamente; o cobertor da filosofia não faz nenhuma restrição. “Venham livros da sabedoria, esqueçam o lado divino, e vamos enfrentar a realidade; esqueça as páginas de equívocos e vamos discutir só o que merece ser discutido. Oras, nada vem de Deus coisa alguma, mas entramos num acordo no tocante ao que você tem ou não razão.” Eis o que é filosofar.



(O Livro dos Médiuns: n.20-25).

Entre os materialistas, importa distinguir duas classes: colocamos na primeira os que o são por sistema. Nesses, não há a dúvida, há a negação absoluta, raciocinada a seu modo. O homem, para eles, é simples máquina, que funciona enquanto está montada, que se desarranja e de que, após a morte, só resta a carcaça. Felizmente, são em número restrito e não formam escola abertamente confessada. Não precisamos insistir nos deploráveis efeitos que para a ordem social resultariam da vulgarização de semelhante doutrina. [os países com grande número de ateus já nos mostrou o quão errado é este prognostico, mas, enfim, este estudo sobre as formas de ateísmo é interessante e, em geral, válido.]



Quando dissemos que a dúvida cessa nos incrédulos diante de uma explicação racional, excetuamos os materialistas extremados, os que negam a existência de qualquer força e de qualquer princípio inteligente fora da matéria. A maioria deles se obstina por orgulho na opinião que professa, entendendo que o amor-próprio lhes impõe persistir nela. E persistem, não obstante todas as provas em contrario, porque não querem ficar de baixo. Com tal gente, nada há que fazer; ninguém mesmo se deve deixar iludir pelo falso tom de sinceridade dos que dizem: fazei que eu veja, e acreditarei. Outros são mais francos e dizem sem rebuço: ainda que eu visse, não acreditaria.



A segunda classe de materialistas, muito mais numerosa do que a primeira, porque o verdadeiro materialismo é um sentimento antinatural [esta afirmação não tem o menor sentido], compreende os que o são por indiferença, por falta de coisa melhor, pode-se dizer. Não o são deliberadamente e o que mais desejam é crer, porquanto a incerteza lhes é um tormento. Há neles uma vaga aspiração pelo futuro; mas esse futuro lhes foi apresentado com cores tais, que a razão deles se recusa a aceitá-lo. Daí a dúvida e, como conseqüência da dúvida, a incredulidade. Esta, portanto, não constitui neles um sistema. Assim sendo, se lhes apresentardes alguma coisa racional, aceitam-na pressurosos. Esses, pois, nos podem compreender, visto estarem mais perto de nós do que, por certo, eles próprios o julgam.



(...)



Ao lado da dos materialistas propriamente ditos, há uma terceira classe de incrédulos que, embora espiritualistas, pelo menos de nome, são tão refratários quanto aqueles. Referimo-nos aos incrédulos de má-vontade. A esses muito aborreceria o terem que crer, porque isso lhes perturbaria a quietude nos gozos materiais. Temem deparar com a condenação de suas ambições, de seu egoísmo e das vaidades humanas com que se deliciam. Fecham os olhos para não ver e tapam os ouvidos para não ouvir. Lamentá-los é tudo o que se pode fazer.



Apenas por não deixar de mencioná-la, falaremos de uma quanta categoria, a que chamaremos incrédulos por interesse ou de má-fé. Os que a compõem sabem muito bem o que devem pensar do Espiritismo, mas ostensivamente o condenam por motivos de interesse pessoal. Não há o que dizer deles, como não há com eles o que fazer. O puro materialista tem para o seu engano a escusa da boa-fé; possível será desenganá-lo, provando-se-lhe o erro em que labora. No outro, há uma determinação assentada, contra a qual todos os argumentos irão chocar-se em vão. (...)



Além dessas diversas categorias de opositores, muitos há de uma infinidade de matizes, entre os quais se podem incluir: os incrédulos por pusilanimidade, que terão coragem, quando virem que os outros não se queimam; os incrédulos por escrúpulos religiosos, aos quais um estudo esclarecido ensinará que o Espiritismo repousa sobre as bases fundamentais da religião e respeita todas as crenças; que um de seus efeitos é incutir sentimentos religiosos nos que os não possuem, fortalecê-los nos que os tenham vacilantes. Depois, vêm os incrédulos por orgulho, por espírito de contradição, por negligência, por leviandade, etc., etc.


Não podemos omitir uma categoria a que chamaremos incrédulos por decepções. Abrange os que passaram de uma confiança exagerada à incredulidade, porque sofreram desenganos. Então, desanimados, tudo abandonaram, tudo rejeitaram. Estão no caso de um que negasse a boa-fé, por haver sido ludibriado.



2. Como podemos, seguindo esta linha de raciocínio kardecista, que, confesso, me agradou profundamente, mostra com detalhes que há muito mais não-religiosos do que o IBGE, com seus ridículos 7,35%, nos mostrou. Olhe você mesmo em sua volta, faça uma amostragem das pessoas do seu trabalho, da sua escola, pergunte a eles sua religião, se freqüentam alguma Igreja, se já leram integralmente os livros básicos desta ou daquela fé, e perceba que, provavelmente, existem mais ateus (do tipo afetado) do que pessoas realmente crédulas.

Mateus Davi

Entre a fé e o niilismo

Nenhum comentário: