sábado, 5 de junho de 2010

Ateísmo espiritual

Espiritualidade ateísta




O título dessa postagem seria um paradoxo?


Não para André Comte-Sponville, um dos mais respeitados filósofos franceses da atualidade. Seus livros já foram traduzidos para mais de vinte idiomas e embora declarando-se ateu, vai contra a corrente de escritores populares que escrevem sobre a temática religiosa, mas que participam de uma verdadeira cruzada radical e militante(eu diria até, religiosa!) pelo ateísmo, como Michael Onfrey, Christopher Hitchens e Richard Dawkings.

Comte-Sponville opta pelo meio-termo e defende um "ateismo fiel", que vem a ser uma espiritualidade forte porém contrária à ideia transcendente de Deus. É uma espiritualidade guiada apenas pelas virtudes e pela sabedoria da tradição filosófica cética e humanista. Para ele, o saber filosófico deveria superar a crença religiosa, inclusive sua dimensão espiritual, o que não significa aversão à religião nem opção pelo niilismo.



"laicidade não significa ódio às religiões"


Para ele, a "laicidade não significa ódio às religiões", mas o niilismo "conduz à idolatria mercantil e à violência". Seu livro mais recente que fez muito sucesso foi "Pequeno tratado das grandes virtudes", marcado pelo estilo direto e acessível. Para quem o critica por ser um filósofo "sucesso de mídia", midiático, Comte-Sponville responde: "sou um filósofo antigo, procuro pensar à maneira dos antigos, especialmente Epicuro e Espinosa, para resolver problemas atuais".

Sobre religião, espiritualidade e sobre o significado do termo "ateu fiel", ele nos diz:

"A religião é uma forma de espiritualidade mas nem toda espiritualidade é religiosa. O que é religião? É uma crença que aponta para o sobrenatural, para o transcendente, para o sagrado, para o divino. Eu não acredito em nada disso! O que é espiritualidade? É a vida do espírito, especialmente em sua relação com o infinito, com a eternidade, com o absoluto. É menos uma crença que uma experiência: É submeter nosso aspecto finito ao infinito, nosso aspecto temporal à eternidade, do nosso aspecto relativo ao absoluto."

"Os ateus não tem menos espírito que os outros. Por que teriam menos espiritualidade? A vida espiritual não é sempre religiosa. O infinito, a eternidade e o absoluto não são transcendentes e sobrenaturais. Como para Epicuro ou Espinosa, o infinito, a eternidade e o absoluto não são nada transcendentes ou sobrenaturais; eles são imanentes e naturais, são a própria natureza. Estamos dentro do infinito (o espaço), dentro da eternidade(o tempo), dentro do absoluto(o todo, ou seja, o conjunto de todas as relações o qual não poderia por definição ser relativo a qualquer outra coisa)."

E por fim,

"O naturalismo desemboca numa mística da imanência. Já estamos salvos, já estamos dentro do Reino: a eternidade é agora".

9 comentários:

Yuri S. C. disse...

Sempre tive preferência pelos que dialogavam respeitosamente com os teístas.
Sponville é um dos meus preferidos.

Falta muito, mas muito a essa nova horda de ateus (dawkins etc) e seus seguidores para atingirem coisa semelhante. E pelo andar da carruagem estão se afastando cada vez mais.

raph disse...

Parabéns pelo blog, este post em específico é muito pertinente.

Eu amo Espinosa e Epicuro, mas não sou ateu - Em todo caso, sou espiritualista e livre-pensador, e vejo espiritualidade mesmo na teoria de Darwin-Wallace.

Talvez você goste:

http://textosparareflexao.blogspot.com/2010/01/as-licoes-da-evolucao.html

Abs!
raph

Gil disse...

Não existe espírito,muito menos deuses, demonios, etc. Talvez algum tipo de energia ("eletrecidade") , coisas que a física quantica logo, logo estará explicando e provando. Vamos estudar pessoal!

Valter Augusto disse...

Rapaz!Sinceramente não entendi!O que é espírito nessa concepção do Sponville?Se não é algo sobrenatural,repito,o que é?

Captain Kirby disse...

Ateus como esse Sponville e o filósofo Alain de Botton tentam conciliar aquilo que eles consideram de importante na tradição judaico-cristã com o ateísmo. Possuem uma postura séria e não combatem a religião de forma imbecil como Dawkins e cia.
Todavia considero, particularmente, incoerente esse discurso conciliador, se é para cultivar uma vida espiritual, prefiro seguir uma religião, não preciso de um híbrido filosófico estranho para isso.

Ernesto von Ruckert disse...

Gosto do Sponville. Esse modo de pensar já foi exposto pelo Joseph Campbell. Não vejo incoerência entre ser ateu e ter uma espiritualidade, que não tem nada a ver com a existência de espíritos. Vejam esses artigos:
http://www.ruckert.pro.br/blog/?p=3967
http://wolfedler.blogspot.com/2009/01/espiritualidade-atesta.html

Big Lui disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Big Lui disse...

Vendo alguns comentários aqui, percebo que ainda tem quem confunde espiritualidade com religião ou crer em alguma divindade.

Ai! Ai! O povo precisa estudar mais e parar com esse pensamento manjado.

Oiced Mocam (Pseudônimo do Escritor) disse...

Para Sam Harris, que também é doutor em neurociência pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, desligar a espiritualidade das religiões é o grande passo que faltava às doutrinas seculares.
Em seu novo livro, Waking Up (Despertando), recém-lançado nos Estados Unidos, o filósofo mostra que é possível chegar à transcendência e atingir a mais plena felicidade sem se aproximar da essência divina. Mais que isso, indica técnicas, como meditação, respiração que facilitam o percurso até a espiritualidade dos ateus.

Para mim, a espiritualidade deve estar próxima da verdade e a ciência também como meio.Livres Pensadores, irreligios os céticos, racionalistas e humanistas seculares modernos tem alta espiritualidade. São pessoas livres de crenças sobrenaturais,dogmas e doutrinas.

Saudações ateístas,
Oiced Mocam Scribd